(MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2014)
Para tratarmos do livro: “Manifesto do partido comunista”, precisamos nos contextualizar. Toda obra
importante, que tem muito a dizer, advém de um cenário sócio cultural bem complexo. Após a reforma
protestante em Lutero e Calvino, e a contrarreforma do catolicismo, a Europa mudou. O século das luzes
marcou essa mudança, na mente e nos corações dos homens. Ela tomou a iniciativa do divórcio com toda a
Idade Média.
Logo, reformas que deveriam iniciar nas igrejas, e implicar na sociedade, agora se apropriam de termos
diferentes. Segundo a revolução francesa, na laicidade, “Estado” e a “Religião” se tornaram esferas
intangíveis. Apesar das traduções e motivações dos reformadores, a bíblia nem sempre era lida, e assim, o
cristianismo nominal era cada vez mais alimentado. Faltava uma cosmovisão bíblico-cristã, uma síntese
para os cristãos. Além disso, a revolução industrial, adjunto ao cientificismo, se apresentou como “ordem
e progresso”, para esta realidade. Assim, se deu o contexto que chamo de “redenção fora de Cristo'',
uma potência para os europeus, “o manifesto”.
Mas, só a redenção se um problema real existir. Pois é, dessa forma que “o manifesto” nasce, e apresenta
uma "queda da humanidade", fora do pecado. Marx e Engels bebem do idealismo de Hegel e do
materialismo de Feuerbach, estes pensadores ditaram o tom para o que seria gatilho as novas ideias e
mudanças. Era a crítica a tudo até então estabelecido, com manufatura e modos de reprodução aparecendo
em todos os refrões dessa manifestação.
A hermenêutica socialista e comunista é a composição dessa canção utópica, baseada no determinismo,
que querendo você ou não, nunca deu certo, em lugar nenhum, em sua completude. Essa interpretação é
chamada de materialismo-histórico-dialético, que substitui qualquer tipo de visão de mundo, como a meta
narrativa bíblica, por exemplo. A luta de classes é a chave para entender toda a história aqui. A existência
se chama "sobrevivência" e o homem é abolido, em todas as cenas da história, pois, sempre há um
oprimido em relação a um opressor. Veja: (a) Grécia Antiga: homem livre e escravo, (b) Roma Antiga:
patrícios e plebeus, (c) Idade Média: Senhor feudal e servo & (d) Modernidade: burgueses e proletários.
É uma nova fonte de sentido à vida, não baseada no que você possui, mas no que você abre mão de se
tornar. O capital é um fim em si mesmo aqui, fazendo com que o assalariado, que não tem lucros líquidos,
se manifeste, contra o burguês rico, para quem sabe, gere um proletário rico. O socialismo promete abolir
a "moderna propriedade privada", esquecendo que o oitavo mandamento bíblico, na Antiguidade, já
pressupunha esse direito irrevogável. A ascensão material de um lado, tende a uma sugestão de solução
por revolução ou declínio comum, do outro. Não era somente o basta de opressores aos oprimidos, mas
ascensão dos oprimidos sobre os opressores.
A destruição das relações humanas é o argumento mais interessante do manifesto ao nosso ver, mostrando
a queda da produção por vocação, por motivação; mas apenas por remuneração.
A necessidade de criatividade para o sistema sobreviver tornou-se um caminho para exploração.
Destruir as tradições e fixar na "democracia", esperança do desaparecimento de classes, é o fôlego que
sustenta até hoje essas ideias. Utilizar o poder, advindo da revolução, para empobrecer o burguês,
aumentando o estado e acelerando as forças produtivas são ideias bem claras no manifesto. O poder
público não seria mais político depois da implementação do comunismo, e aí seria possível o livre
desenvolvimento de um por meio de todos. O início do movimento segue uma sinfonia, do nacional para o
global, com a unidade do proletariado, e a luta política contra o burguês, este que substitui o “aristocrata”.
Parece poético: A revolução, pela união. Uma derrubada violenta de toda ordem existente, algo pragmático,
e não teórico.
A roda precisa ser quebrada, e uma hora será na visão de Marx. Quando isso acontecer, os conceitos devem
estar claros, como uma epidemia. A concorrência entre si não devem existir, nem heranças - “economia
patriarcal”. O estado deve centralizar tudo. Nada é “seu”, logo, não existe segurança. Aqui, em um
movimento anacrônico; empreendedor, artistas de rua e os “pobres” - não são autênticos na revolução,
apenas a classe trabalhadora. Só ela poderia reivindicar um "sindicato" para defender o seu “salário”, por
exemplo. A crítica à pregação sobre: caridade, pobreza, celibato, mortificação, etc. no feudalismo é forte.
Dizia-se que era como "água-benta" dos padres a aristocratas. Destruindo a lei, a moral e a religião, a
acusando de pano de fundo para preconceitos e interesses próprios, as verdades eternas se reduziram em: "a
liberdade e a justiça ao seu modo". Emancipar crianças e mulheres com conceitos simples, de comunidade
e resistência, traz ao socialismo (e posteriormente comunismo) uma luta legítima, que mexe com toda a
consciência, como, o que é família? - e depois derruba todas as estruturas vigentes.
Enfim, o que realmente importa num processo educacional? Será que nada, além de “uma hermenêutica”
da realidade, que promove jovens automaticamente? Começar com os óculos de Marx é retificar a venda
da dignidade humana e adentrar a Inteligência Artificial como um malefício. É assumir o lucro como
objetivo último (mesmo aparentando uma ideia capitalista). É não crer no individual. É colocar nossa
esperança no lugar errado, em um outro centro de poder, com revolução e resolução radical como
instrumento.
"Que as classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista. Os proletários nada tem a
perder nela a não ser suas cadeias. Tem um mundo a ganhar." (p.83)
Em meio a isso, como, então, viveremos? Penso que precisamos de uma oposição de início. Se Marx
apresenta uma hermenêutica, sobre a vida, quem somos e o mundo, como tese; uma antítese é necessária.
Nossa sugestão seria o conservador Edmund Burke, como oposição e equilíbrio. Em resumo, este se
aproxima das ideias de Locke e Hume, mas não era tão profundo como Kant ou Hegel; porém se opunha a
Voltaire e Rousseau. Nosso último ponto é a falta de qualquer ontologia, uma vida fria, que se dissolve
aqui e agora. Não consigo acreditar nessa visão, que parte de uma “queda” e “redenção” marxista do
mundo, e por isso penso: Aos oprimidos e opressores, menos olho “por” olho, e mais olho "no" olho.
Dentre tudo, fomos chamados para a reconciliação, e não para o manifesto da revolução!
Por: Jefferson de Melo.
(Texto apresentando em uma das trilhas da disciplina: Abordagens cristãs às áreas do conhecimento nas ciências humanas ...)
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