sábado, 20 de julho de 2024

SÍNTESE: MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA

(MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2014)


Para tratarmos do livro: “Manifesto do partido comunista”, precisamos nos contextualizar. Toda obra

importante, que tem muito a dizer, advém de um cenário sócio cultural bem complexo. Após a reforma

protestante em Lutero e Calvino, e a contrarreforma do catolicismo, a Europa mudou. O século das luzes

marcou essa mudança, na mente e nos corações dos homens. Ela tomou a iniciativa do divórcio com toda a

Idade Média.  


Logo, reformas que deveriam iniciar nas igrejas, e implicar na sociedade, agora se apropriam de termos

diferentes. Segundo a revolução francesa, na laicidade, “Estado” e a “Religião” se tornaram esferas

intangíveis. Apesar das traduções e motivações dos reformadores, a bíblia nem sempre era lida, e assim, o

cristianismo nominal era cada vez mais alimentado. Faltava uma cosmovisão bíblico-cristã, uma síntese

para os cristãos. Além disso, a revolução industrial, adjunto ao cientificismo, se apresentou como “ordem

e progresso”, para esta realidade. Assim, se deu o contexto que chamo de “redenção fora de Cristo'',

uma potência para os europeus, “o manifesto”.


Mas, só a redenção se um problema real existir. Pois é, dessa forma que “o manifesto” nasce, e apresenta

uma "queda da humanidade", fora do pecado. Marx e Engels bebem do idealismo de Hegel e do

materialismo de Feuerbach, estes pensadores ditaram o tom para o que seria gatilho as novas ideias e

mudanças. Era a crítica a tudo até então estabelecido, com manufatura e modos de reprodução aparecendo

em todos os refrões dessa manifestação.


A hermenêutica socialista e comunista é a composição dessa canção utópica, baseada no determinismo,

que querendo você ou não, nunca deu certo, em lugar nenhum, em sua completude. Essa interpretação é

chamada de materialismo-histórico-dialético, que substitui qualquer tipo de visão de mundo, como a meta

narrativa bíblica, por exemplo. A luta de classes é a chave para entender toda a história aqui. A existência

se chama "sobrevivência" e o homem é abolido, em todas as cenas da história, pois, sempre há um

oprimido em relação a um opressor. Veja: (a) Grécia Antiga: homem livre e escravo, (b) Roma Antiga:

patrícios e plebeus, (c) Idade Média: Senhor feudal e servo & (d) Modernidade: burgueses e proletários.


É uma nova fonte de sentido à vida, não baseada no que você possui, mas no que você abre mão de se

tornar. O capital é um fim em si mesmo aqui, fazendo com que o assalariado, que não tem lucros líquidos,

se manifeste, contra o burguês rico, para quem sabe, gere um proletário rico. O socialismo promete abolir

a "moderna propriedade privada", esquecendo que o oitavo mandamento bíblico, na Antiguidade, já

pressupunha esse direito irrevogável. A ascensão material de um lado, tende a uma sugestão de solução

por revolução ou declínio comum, do outro. Não era somente o basta de opressores aos oprimidos, mas

ascensão dos oprimidos sobre os opressores.


A destruição das relações humanas é o argumento mais interessante do manifesto ao nosso ver, mostrando

a queda da produção por vocação, por motivação; mas apenas por remuneração.

A necessidade de criatividade para o sistema sobreviver tornou-se um caminho para exploração.


Destruir as tradições e fixar na "democracia", esperança do desaparecimento de classes, é o fôlego que

sustenta até hoje essas ideias. Utilizar o poder, advindo da revolução, para empobrecer o burguês,

aumentando o estado e acelerando as forças produtivas são ideias bem claras no manifesto. O poder

público não seria mais político depois da implementação do comunismo, e aí seria possível o livre

desenvolvimento de um por meio de todos. O início do movimento segue uma sinfonia, do nacional para o

global, com a unidade do proletariado, e a luta política contra o burguês, este que substitui o “aristocrata”. 

Parece poético: A revolução, pela união. Uma derrubada violenta de toda ordem existente, algo pragmático,

e não teórico.


A roda precisa ser quebrada, e uma hora será na visão de Marx. Quando isso acontecer, os conceitos devem

estar claros, como uma epidemia. A concorrência entre si não devem existir, nem heranças - “economia

patriarcal”. O estado deve centralizar tudo. Nada é “seu”, logo, não existe segurança. Aqui, em um

movimento anacrônico; empreendedor, artistas de rua e os “pobres” - não são autênticos na revolução,

apenas a classe trabalhadora. Só ela poderia reivindicar um "sindicato" para defender o seu “salário”, por

exemplo. A crítica à pregação sobre: caridade, pobreza, celibato, mortificação, etc. no feudalismo é forte.


Dizia-se que era como "água-benta" dos padres a aristocratas. Destruindo a lei, a moral e a religião, a

acusando de pano de fundo para preconceitos e interesses próprios, as verdades eternas se reduziram em: "a

liberdade e a justiça ao seu modo". Emancipar crianças e mulheres com conceitos simples, de comunidade

e resistência, traz ao socialismo (e posteriormente comunismo) uma luta legítima, que mexe com toda a

consciência, como, o que é família? - e depois derruba todas as estruturas vigentes.  


Enfim, o que realmente importa num processo educacional? Será que nada, além de “uma hermenêutica”

da realidade, que promove jovens automaticamente? Começar com os óculos de Marx é retificar a venda

da dignidade humana e adentrar a Inteligência Artificial como um malefício. É assumir o lucro como

objetivo último (mesmo aparentando uma ideia capitalista). É não crer no individual. É colocar nossa

esperança no lugar errado, em um outro centro de poder, com revolução e resolução radical como

instrumento.   


"Que as classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista. Os proletários nada tem a

perder nela a não ser suas cadeias. Tem um mundo a ganhar." (p.83)


Em meio a isso, como, então, viveremos? Penso que precisamos de uma oposição de início. Se Marx

apresenta uma hermenêutica, sobre a vida, quem somos e o mundo, como tese; uma antítese é necessária.

Nossa sugestão seria o conservador Edmund Burke, como oposição e equilíbrio. Em resumo, este se

aproxima das ideias de Locke e Hume, mas não era tão profundo como Kant ou Hegel; porém se opunha a

Voltaire e Rousseau. Nosso último ponto é a falta de qualquer ontologia, uma vida fria, que se dissolve

aqui e agora. Não consigo acreditar nessa visão, que parte de uma “queda” e “redenção” marxista do

mundo, e por isso penso: Aos oprimidos e opressores, menos olho “por” olho, e mais olho "no" olho.

Dentre tudo, fomos chamados para a reconciliação, e não para o manifesto da revolução!


Por: Jefferson de Melo.

(Texto apresentando em uma das trilhas da disciplina: Abordagens cristãs às áreas do conhecimento nas ciências humanas ...)


sábado, 13 de julho de 2024

A INTERPRETAÇÃO CRISTÃ DA HISTÓRIA

O professor Otto A. Piper do Seminário Teológico de Princeton, EUA, realizou uma sequência de palestras na década de 1950, na USP, sobre a Interpretação Cristã da História. (Acesse a primeira das sete palestras em: http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/36390)

A interpretação da história é o refrão principal de todo o seu conteúdo, onde o professor procura explanar nosso entendimento sobre a realidade "factual", por meio de outros fatos passados. A obra relata o quão perdido no pessimismo o século XIX e XX ficou, isto, gerado também pelo terror. O medo do "novo" ofuscou artistas e escritores; mas trouxe consigo novas e antigas perspectivas. Antigas, ao observar que o tirano vencedor assume as ideias do tirano perdedor, e novas, quando se procura uma hermenêutica para tentar responder: (1) Será que a história se converge para algum plano? (2) ou somos vítimas de forças anônimas?  

A descoberta da “história” trouxe um novo leque de possibilidades. Mais que relatos fatídicos, agora, as lentes de quem observa, a filosofia ressaltada e a ontologia buscada são pautas na análise dos historiadores. O senso de “história” é Ocidental, e quem tem foge "dos acasos". A noção de cronologia (advém da consciência histórica judaico-cristã) é ressaltada ao olhar Jesus Cristo como fator preponderante na interpretação da história. Na antiguidade os grandes marcos, a memória nacional, volta-se a coisas interessantes e notáveis, era a buscava pelos intérpretes historiadores. Estes seguiam duas grandes ideias, a “estória” em Heródoto (narrativas, não necessariamente reais)  e a "história" em Tucídides (parecido com o que temos hoje). 

O pluralismo não apresenta um fio condutor, assim, o materialismo se torna problemático ao entendimento da história. Logo, há uma dificuldade em assumir uma história "natural" e "sem sentido". A saída vem com o platonismo, ou com o zoroastrismo, e a ideia de bem e mal. Porém, é no cristianismo que observamos um encadeamento mais claro sobre a história da humanidade. Observe as interpretações principais do tempo histórico.

Para o autor, a interpretação cíclica (indicada na astronomia mesopotâmica) traz a ideia de uma posição ativa, mais que um telespectador, porém, que recai no fatalismo e naturalismo mesmo as repetições sendo bem vistas em algum sentido. Em Nietzsche, amor fati, trata da aceitação integral da vida e do destino humano mesmo em seus aspectos mais cruéis e dolorosos, divergindo do amor cristão –  voltado a uma decisão arriscada. Já a interpretação linear traz dois processos, o finito (que coloca a tensão: Liberdade dos oprimidos X Desumanidade de tiranos, observando o otimismo de Hegel, reinterpretado por Marx, onde o objeto final está na mão dos homens) e o infinito (que coloca o valor do homem em relação ao que ele faz - epicurismo. Assim, os progressistas nascem e ditam o tom, dizendo: O bom de hoje, será melhor ainda amanhã; mas não esclarecem, que pode virar a loucura no por vir). 

Pensamos como o autor, que a liberdade nos torna responsáveis em relação ao curso histórico, entendendo que todas as nossas ações levam a um fim, já que racionalidade sem objetivo verdadeiro se torna “caricatura bizarra desenhada na pós- modernidade”. 

Por: Jefferson de Melo.


(Texto apresentando em uma das trilhas da disciplina: Abordagens cristãs às áreas do conhecimento nas ciências humanas ...)

Texto próx.: 

Síntese do Manifesto Comunista (21.7)

sábado, 6 de julho de 2024

A SOCIOLOGIA A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO CRISTÃ

UMA ANÁLISE EM BAUMAN.

Neste breve texto, faremos uma sintética análise de uma entrevista de Bauman, grande pensador do século XX. Seu conceito "liquidez" diz muito aos tempos atuais, e possui diversas aplicações. Iremos observar esse termo após compreender: "para que serve a sociologia?", título da exposição. Não temos por objetivo forçar o pensamento do sociólogo aos moldes "cristãos", porém, pensando na riqueza do que venha ser "serviço" tanto nessa área da ciência, quanto no texto bíblico, temos um ponto comum para um possível diálogo.

Para Bauman, a sociologia na Polônia e na Grã Bretanha, por meados de 1970, se assemelham, até mesmo, pela língua inglesa ser a oficial deste campo. Temos poucas mudanças radicais no âmago dos estudos em sociologia "aqui". As descobertas de Gramsci, da Escola de Frankfurt, da “culturologia”, da hermenêutica, da insignificância do “funcionalismo estrutural” e da magnitude do estruturalismo, são alguns dos grandes temas em que Bauman trabalhava antes de “migrar” da Polônia a Grã Bretanha. 

Ao ser perguntado: “para que serve a sociologia?” Bauman separa a ideia de experiência e vivência, onde o primeiro se volta a aspectos objetivos e o segundo a aspectos subjetivos. Sua sociologia dialoga com esses dois aspectos do ser humano, onde o romper do hábito generalizado pode resultar em dois grandes fundamentos: (1) A crença na inflexibilidade da ordem das coisas e (2) a crença numa fraqueza humana beirando a impotência. Esse dueto de crenças, pode ser chamado de “servidão voluntária”, um termo cunhado por Étienne de la Boétie.

Serviço e voluntariedade são conceitos expressos na prática da Igreja do primeiro século. Encontramos o amor fraternal entre os irmãos, mostrando que o termo de Étienne pode ser aplicado, em seu devido contexto, aos discípulos de Cristo. Ao contrário do “mundo líquido” em que Bauman nos alerta, a educação cristã deve procurar, se utilizando dos recursos de um sociólogo, mapear o “mundo”,  por meio de uma ética e moral, como a de Jesus.

“Por que o mundo deve ser um anfiteatro de gladiadores do tipo matar ou morrer em vez de, digamos, uma colmeia ou um formigueiro vigorosamente sinergético?” (BAUMAN, 2015, p. 22)

por: Jefferson de Melo.


(Texto apresentando em uma das trilhas da disciplina: Abordagens cristãs às áreas do conhecimento nas ciências humanas ...)

Texto próx.: 

A Interpretação cristã da história (14.7)

Síntese do Manifesto Comunista (21.7)