quarta-feira, 2 de agosto de 2023

A Filosofia e a Ciência (Em poucos caracteres)

1.  1. Breve conceituações

Antes de assimilar, comparar, abstrair é preciso contextualizar, nem que seja brevemente.

As palavras, segundo CS Lewis, muitas vezes morrem, em consequência perdem sentido e significado. Este movimento pode acontecer por várias razões, mas sabe-se que uma das maiores implicações é a falta de compreensão; um ruído na linguagem da qual se faz uso, que deturpa a realidade. Assim, se faz necessário um retorno aos conceitos. 

1.1  1.1 A Filosofia

Oriunda da antiga Grécia a filosofia pode ser traduzida, de maneira livre, por “apreço pelo saber” (filo: “amor, apreço”; sofia: “sabedoria”). Porém, a filosofia não se limita apenas a sua etimologia, mas transcende as culturas, seja no espaço físico, quanto no desdobramento do tempo.

Logo, temos um marco, pois se inaugura uma nova perspectiva, por meio de uma reflexão sobre o mundo à volta. Isso não significa que outras civilizações não “filosofavam”, a Bíblia Sagrada por exemplo expressa filosofia, principalmente nas obras do Rei Salomão, nos livros: Provérbios, Eclesiastes e Cantares.

A ignição da conceituação da filosofia adveio do afastamento do Mythos, e uma aproximação ao Logos. Explicações em relação aos fenômenos da natureza, de maneira diferenciada, foi a grande virada no pensamento grego do séc. VI a.C, do qual a cultura Ocidental até hoje é influenciada. É possível que Tales de Mileto tenha sido o ator principal desse movimento, trazendo o que podemos chamar de filosófico-científico.

1.2  1.2 A Ciência

Se a filosofia é a mãe, a ciência como filha, herda os direitos de primogenitura. Desplugado do pensar fictício, imaginativo, como observamos nas narrativas míticas, os primeiros filósofos da Jônia irão procurar responder às questões do mundo natural, a chamada Physis, Física, pelos efeitos, causas naturais, daí o termo Naturalismo.

Mesmo com o nascer dessa nova perspectiva a mitologia não morre, porém não ocupa um lugar hegemônico no coração dos gregos, já que temos uma tendência ao racional. Importante ressaltar que Mileto, cidade de Tales, não era uma cidade central como Atenas; mostrando um aspecto importante para o nascente modo de pensar, uma cidade portuária, cosmopolita, com uma diversidade cultural vasta; onde o pensar diferente entre os cidadãos forjaria o pensar filosófico-científico.  

Neste momento histórico não temos o método científico, já que esse conceito ganha proeminência depois de Bacon e Descartes. A filosofia é o ponto de partida para um pensar reflexivo, já a ciência, aqui presente, é oriunda das boas perguntas, voltada à natureza, como: O que é o Mundo? Do que ele se constitui? Onde estou?

Etimologicamente, temos: Scientia, do latim, e Doxa e Episteme, do grego. Doxa, seria um conhecimento baseado em opiniões, já a Episteme é um conhecimento “concetual”. Um exemplo é os quatro elementos de Empédocles, que procura explicar a natureza de maneira racional. 


2.   2. Olhando a Natureza

O que enxergamos? Nós, o outro e o mundo seriam respostas comuns. Tão fundamentais que atualmente norteiam os currículos formais nos centros educacionais. Antes mesmo da Antiguidade, até os tempos Modernos a Natureza é tema primordial.

2.1 A Natureza na Antiguidade

Em síntese, temos “duas correntes filosóficas" emergentes: a Filosofia Social (volta-se aos seres humanos) e a Filosofia Natural (volta-se ao mundo físico). A ascensão da Filosofia Social vem das grandes discussões oriundas da Atenas do séc. V a.C, com os escritos e atuação de Platão e Aristóteles. Já a Filosofia Natural avança com os trabalhos de Euclides e Arquimedes, precedentes do princípio da causalidade. 

Estas filosofias, não são antagônicas, mas sim complementares, para uma visão holística do ser humano e do Mundo. As famosas sete artes liberais, com o Trivium (Gramática, Lógica e Retórica) e Quadrivium (Aritmética, Geometria, Astronomia e Música) partem desse pressuposto. As disciplinas se integram aqui, e partem para uma educação virtuosa.

O cosmo é ‘objeto’ de maior atenção agora, é preciso entendê-lo, para explicá-lo. As ideias de ordem, formas, padrões e regularidades entusiasmam os estudiosos, nascendo um espírito racional para entendimento da vida e do que nos cerca, fugindo do caótico, e abraçando o harmônico. As “visões” a respeito da natureza, na Antiguidade se perpetua no período helenistíco; a postura pessimista se funde a otimista, gerando disputas e teorias, fruto das variadas críticas.

Mas, qual foi o marco que levou esses campos se tornarem o que chamamos ‘atualmente’ de ciências humanas e ciências naturais? – onde a primeira íntegra: História, Geografia, Sociologia e Filosofia; e a segunda: Física, Química e Biologia (Obs: Utilizamos como referência as disciplinas do curso de Ensino Médio, onde considero a disciplina de Matemática como uma linguagem, assim como as conhecidas língua portuguesa, educação artística e educação física; e não como uma “ciência natural”). A questão nos prepara para um salto histórico, da Antiguidade à Pré-Modernidade, abreviando a Idade Média, por questões objetividade ao texto.  

2.2  2.2 A Natureza na Pré-Modernidade (Séc. XVI e XVII)

Apesar de haver grande complexibilidade em acentuar marcos históricos, arriscamos dizer que a mudança dos termos, nascem da ruptura entre a Ciência Moderna com a Filosofia em geral, motivada pela revolução científica e a sua ‘metodologia’. 

Nesse momento, as ciências ganham novas aspirações. Lembramos o contexto pré moderno, que se encontra com o pós-renascimento e o pós-reforma. Se a religião, a política e as manifestações artísticas estavam na ponta das discussões; o status quo do que se tinha até então por ciência, não ficaria em condições diferentes.

Restringirmos nossa atenção as obras de Francis Bacon (1561-1626) e René Descartes (1596- 1650) que trouxeram conceituações para um método científico, envolto não apenas de racionalismo, e conhecimento especulativo, fruto de correntes de pensamentos diversos; mas agora na possível verificação. Assim, o empirismo, a experiência, para a prova, validade, e crivo para a verdade científica é proposto para os estudos da natureza. Temos aqui uma revolução, até mesmo semântica para filosofia e a ciência moderna, que precisa da Matemática como retificador do saber.


3.   3. Análise temporal da “Física”.

Neste momento, olharemos para a Physis, ciências físicas, em algumas de suas fases ao longo do tempo. Sim, as ciências partem da observação, e não são imutáveis e absolutas como alguns propagam por aí, de maneira até mesmo dogmática. Ela tem o seu lugar, desde o seu início, o de levantar hipóteses, embasar teses, formar antíteses e estabelecer sínteses, como Hegel, séculos mais tarde elucidou.

Citamos algumas perspectivas. Aos pré-socráticos, “physis representava principalmente o processo do vir-a-ser e do crescimento de todas as coisas; significava praticamente o mesmo que gênese” (p. 19). Em Platão, “as coisas visíveis, que seus oponentes chamavam de physis, vêm somente em segundo lugar; elas próprias são produtos do Intelecto e do Desígnio” (p. 23). Para Aristóteles, “é a Forma de cada coisa, e os movimentos ou mudanças no sentido de plena realização das Formas” (p.25).

3.1  3.1 Semelhanças na “Física”

Citamos Tales de Mileto, Empédocles, Galileu Galilei e Johannes Kepler; antes de tudo matemáticos, onde faziam uso de sua linguagem, seja para refletir sobre a natureza presente, seja para criar alguma teses ou teoremas, no desejo de resolver na vida prática algum problema.

A Física é vista na Antiguidade não como uma disciplina autônoma. Tales e Empédocles são naturalistas, e procuram respostas racionalistas, para o funcionamento do Universo. Assim procuram averiguar do que o mundo é constituído, basicamente. Já na Idade Moderna, as questões junto a motivação são mudadas, mas o coração dos questionamentos sobre tudo que nos rodeia segue o mesmo, como vemos nos trabalhos de Galileu Galilei e Johannes Kepler, que junto a experimentos continuaram buscando respostas para os fenômenos físicos, com incríveis descobertas.

3.2  3.2 Diferenças na “Física”

Se existem pontos de contato, também existem grandes diferenças no modo de se fazer ciência entre os períodos aqui trabalhados. A maior delas é o citado método científico, um maior rigor para o que chamamos “ciências exatas”. Em Principia, Isaac Newton nos deixa exemplos narrativos no livro I, do que seria o futuro da Física nos últimos séculos. A distância em relação à filosofia já se fazia, aquela que originou os primeiros cientistas. Temos agora uma filosofia própria para as ciências, e ciências naturais, a priori a Física. Ela começa a encorpar seu campo de atuação e seus próprios atores.

Por fim, não podemos ignorar a relação com a religião, enquanto o desenvolvimento da ciência; principalmente o cristianismo e suas pautas bíblico-teológicas, que agitaram a visão de mundo, ou cosmovisão ao longo dos anos. Se existem duas revelações, a natural e a especial, é preciso fazê-las dialogar, pelo menos para alguns pensadores. Existem limites, diferenças e especificidades; agora o que não há, em nenhuma circunstância é uma guerra, entre fé e razão, ciência e religião; bíblia sagrada e teses acadêmicas. Antes de tudo é preciso sensatez e adequação.

Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. (1 Coríntios 2.14)



4.    4. Referências

HOOYKAAS, R. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna. Brasília: Editora UnB, 1988.   

(Texto apresentando em uma das trilhas da disciplina: Abordagens cristãs às áreas do conhecimento nas ciências exatas ...)

                                                                                                                              Por: Jefferson de Melo.

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