segunda-feira, 1 de novembro de 2021

A REFORMA ‘TEOLÓGICA’

  1. Características da Reforma Protestante

Um dos movimentos mais importantes da história da humanidade, sem dúvidas. Ignorar o contexto, enredo e as implicações da reforma protestante seria perder de vista muitos dos fenômenos de nossa atualidade. Assim, o breve texto a irá procurar demarcar alguns pontos, principalmente em relação aos teológicos, onde a relevância perdura por mais de meio século.

Nosso intuito não é ser polêmico, mas procurar colocar a ênfase da reforma protestante no lugar correto. Alguns dizem que a ascensão da “ciência moderna” foi ocorrida desse movimento, e que outras mudanças de cunho artístico, político, filosófico, econômico se deram por parte do intelectualismo dos reformadores.

Sem dúvidas houve uma forte influência, mas de modo posteriori, pois a priori temos na reforma uma atenção totalmente ‘teológica’. A reforma foi um alerta para o mundo, em um período em que o desespero substitui as manifestações de esperança no medievo.

Este alerta nasceu de um desejo por reavivamento, e não por revolução. Explicamos.

 

1.1  A Reforma não é uma “Revolução”

A reforma, como o próprio nome já propõe, foi um movimento que procurou formular um novo modo de pensar igreja, como primeiro movimento. Lembro, que o renascimento não propôs uma filosofia robusta e sintética como a escolástica do medievo, isso fica claro na diversidade de “humanismos” manifestados no período.

Com a porta escancarada do mundo das letras e o retorno aos clássicos, muitas leituras e traduções foram resgatadas, nascendo por meio da crítica a necessidade por mudanças. Essas mudanças foram propostas por diversos humanistas, a diversas esferas, mas, aos reformadores coube um olhar principalmente bíblico-teológico. Se na variedade de “humanismos” pode ser observado alguma inclinação radical a rupturas sociais e culturais, na reforma a busca pela igreja verdadeira, e descobrimento da vida em Cristo prioritariamente se fez como pilar fundamental.

 

1.2  A Reforma é um “Reavivamento”

A principal corrente da Reforma não estava interessada no estabelecimento de uma tradição cristã inédita, mas antes na renovação de correção da tradição existente. (McGRATH, p.105)

Se a reforma protestante não é uma “revolução”, o que ela é? Em síntese, penso que ela pode ser caracterizada por um “reavivamento”, especificamente “espiritual”. A reforma colocou a Bíblia no centro, isso significa que algo se acenderia outra vez.  Havia uma enorme inquietação na Europa Ocidental, era a queda da ‘idade das trevas’, o caminho do ‘renascimento cultural’ e a renovação pela ‘reforma protestante’. São tempos de mudanças. Observe apenas dois importantes fatores dos séculos XIV e XV.

 

(i)                 A igreja romana não dialogava com os fiéis, eles estavam sedentos por Deus.

(ii)              Não se expressava a prática da justiça social, e a corrupção estava instaurada.


 

  1. Alguns Reformadores e a sua Teologia

Havia uma inquietação na Europa, e a Reforma só desembocou aquilo que começou a algumas décadas atrás. Apesar da santa inquisição e o “código penal” chamado de heresias, homens como Wycliffe e Hus preparam o caminho para que Lutero, Calvino e Zuínglio pudessem seguir pensando, criticando e reformando, por meio das escrituras, a igreja de Jesus Cristo. Era necessário, nada de novo, voltar somente Cristo, as escrituras, a fé, a graça e a glória a Deus. Os chamados cinco solas da reforma.

“Quem não tem a Igreja por mãe, não pode ter Deus por pai”, é um jargão que resume bem o poderio que a Igreja Romana obtinha, ela era a única credenciada, e aceita a promover o Reino de Deus. Mas sua doutrina, mistura verdades bíblicas, com bulas papais; acrescentando e diminuindo sem medida a bíblia sagrada. Não suficiente, as missas em latim não tinham significado nenhum para o povo, nem mesmo, muita das vezes, para o “pregador”. Mas, o que parece ter sido a gota d’água foi o início da venda de indulgência, com a tônica: “Quando uma moeda cai no cofre, uma alma é liberta no purgatório”. A motivação era a construção da basílica de São Pedro, mas o meio (...)


2.1 Lutero, Calvino e Zuínglio

A marca de um reformador nesse contexto, é antes de mais nada uma fidelidade com a verdade, procedentes das escrituras. Orar e Labutar era o lema hermenêutico de Calvino. Diferente de Erasmo de Roterdã, humanista, escritor do Manual do soldado cristão e da tradução no Novo Testamento grego, que valorizava os livros, e a bíblia como um dentre tantos; um reformador carrega a bíblica na mente e no coração, como palavra de Deus. Antes de falarmos de maneira sintética, sobre as contribuições de alguns reformadores, enfatizo a importância das igrejas cristãs trazerem as suas reuniões, cultos e painéis estes heróis da fé. Não é canonizar os reformadores, eles falharam como qualquer humano, mas observar bons exemplos, para revigorar a nossa vida cristã. 

Martinho Lutero (1483-1549) era um monge agostiniano, doutor em Teologia e professor universitário. Inconformado com o que via, principalmente as “vendas de salvação”, declarou: “O justo viverá pela fé”. Mas, o que importa aqui, é que as 95 teses do reformador, procurou mudar o interior da Igreja Romana, e não criar uma Luterana; isso foi consequência, por ser excomungado. Traduziu a bíblia para a língua do povo.

João Calvino (1509-1564) estudou Teologia e Direito, este era um humanista cristão por vocação, como Lutero também era contra o papa, o “culto formal” e a decadência intelectual do “clero”. Elabora uma obra basilar, as Institutas, no desejo de organizar as concepções reformadas. Por exemplo, a condição humana e o fator da graça divina.

Ulrico Zuínglio (1484-1531) foi um mestre em Teologia, mas a princípio um pastor. Nessa função sacerdotal, enfatizou a pregação bíblica. Seus sermões trouxeram uma nova perspectiva para a igreja suíça, primeiro; e depois para a vida pública, ou social.

Poderíamos dizer muito mais sobre estes e outros reformadores, suas contribuições e legado, do qual fazemos parte no presente momento, porém, devido a nossa delimitação e atenção às implicações teológicas geradas pela reforma protestante, consideramos a síntese como recurso de grande validade.


2.2 Implicações Teológicas

Sem dúvidas a reforma e os reformadores trouxeram em primeiro lugar, um novo olhar para a Igreja, logo uma nova maneira de interpretar a bíblia, gerando assim, teologia. Elas iram implicar em várias esferas da sociedade, porém, procura antes de mais nada, se diferenciar da Teologia Medieval, se organizar como Teologia Sistemática e se fazer valer como Teologia Prática. Observamos a seguir.

 

2.2.1 Teologia Medieval

 A teologia medieval era baseada nos debates, as chamadas disputas. Fruto da Escolástica, o modo como era feito teologia se fundamentava no aprofundamento de alguma temática de interesse e a crença racional sobre sua defesa.  Esta razão é oriunda da lógica, muito influenciado por Tomás de Aquino, que procurou por meio da sua Suma Teológica argumentar sobre o conhecimento de Deus, onde ele é dado por meio da imaginação, por vias sensoriais; antes mesmo das intelectuais. Havia muitas sistematizações, mas uma distância de comunicação. Apenas alguns compreendiam estes argumentos, e conseguiam enxergar Aristóteles em meio a eles.


2.2.2 Teologia Sistemática

 Algumas ênfases foram dadas, era preciso explicar algumas doutrinas ao povo. Era necessário saber de muitas coisas, mas não para vaidade, e sim para poder ensinar de modo simples, mas não simplistas, ideias complexas. Tivemos em Lutero a justificação mediante a fé (Habacuque 2.4, Romanos 1.17); onde a graça, foi retomada, em relação a obras para a “salvação”. Em Calvino vemos diversas áreas sendo exploradas, como a soberania de Cristo, em tudo e todos.

 Essas percepções teológicas fizeram os reformadores ampliarem sua visão em relação à concepção de igreja, por meio da centralidade das escrituras.  Logo, muito do que estava estabelecido precisava mudar, como os sacramentos e seus signos, segundo Zuínglio já observava, e claro, uma espiritualidade e ética autêntica. 


2.2.3 Teologia Prática

Mesmo com novos catecismos, credos e confissões era necessária a encenação de todo esse desenvolvimento teológico, uma teologia prática e orgânica. Para isso as traduções bíblicas para a língua comum foram prioritárias, pois as pessoas podiam consultar o que era ensinado nos seus exemplares, assim tornando vivo a conceituação de sacerdócio universal, onde todos os crentes em Jesus possuem um papel a designar. É possível que esse seja o maior legado da reforma. 

 

  1. Referências

MCGRATH, Alister. Teologia: Sistemática, histórica e filosófica. 1. ed. São Paulo: SHEDD, 2005.


por: Jefferson de Melo

(Texto apresentado em uma das trilhas da disciplina Reforma e Educação)

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário