domingo, 31 de outubro de 2021

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO RENASCIMENTO E DO HUMANISMO

  1. Características do Renascimento

A partir do século XIV um período importantíssimo se fez notar, era o Renascimento. Seu desabrochar ocorreu nos séculos posteriores, mas até hoje o seu manifesto se faz presente. O termo renascer, de modo mais livre, remete a tornar vivo outra vez, ou melhor, traz a memória a expressão, nascer de novo. Porém, o “nascer de novo” renascentista não tinha ligação nenhuma com o ensino bíblico, visto especificamente no diálogo de Jesus com Nicodemos, relatado no evangelho de João.

O “espírito” renascentista procurava mesmo, dentre outras coisas, trazer uma nova interpretação do que é a vida, de quem nós somos e o que o mundo é, se utilizando de conceituações já vistas, lá na Antiguidade; porém, agora com nova roupagem, se contrapondo ao Medieval. Com esse “espírito”, os Médici, como mecenas, promoveram a “Nova República de Florença”, investindo pesado, principalmente, nas Artes.

Antes de Rembrandt, e a arte barroca, foi apresentando ao mundo os artistas Leonardo da Vinci, Michelangelo, os escritores Dante, Camões, e diversos outros. Estes propulsores da renascença trouxeram uma ruptura, ou melhor, fizeram uma ponte, da Idade Média à Idade Moderna. Dito isso, observamos a relevância do momento histórico, já que é nesse contexto que transformações pontuais iriam ocorrer. Cito algumas ênfases:

  1. Retorno a ideias greco-romanas da Antiguidade. (Classicismo)
  2. Valorização do indivíduo. (Antropocentrismo)
  3. Valorização dos desejos individuais. (Hedonismo)
  4. Acentuação da capacidade intelectual humana. (Racionalismo)
  5. Acentuação nas explicações retóricas sobre os fenômenos. (Naturalismo)
  6. Extrema esperança sob os itens anteriores. (Otimismo)

 

1.1  Influência Cultural

Uma das principais influências que o Renascimento propôs foi no que chamamos de cultura. Sem entrar na discussão sobre o que é cultura, evitando uma longa argumentação, apresentamos apenas uma breve explicação.

No final do século XVIII e no princípio do seguinte, o termo germânico Kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a para francesa Civilisation referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor no vocábulo inglês Culture, que “tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. (LARAIA, 2020, p.25)

Partimos do ponto de que o movimento implicou um novo pensar, ao menos político, religioso, filosófico, científico e artístico. Isso em decorrência ao retorno aos textos originais, os clássicos gregos e latinos. A volta às fontes e às línguas originais revigorou o período. Não que no medievo não se estudava este material, porém, com certeza a interpretação e a possibilidade de discordar do “estabelecido” trouxe uma nova leitura da realidade. No âmago dos horrores, vistos no fim da idade média, que causou principalmente angústia, e crise existencial, pela incerteza da vida pós morte, temos agora uma tentativa de fuga ao determinismo, já que guerras, fome e pestilências destruíram a esperança de muitos. Em meio a isso, ficamos prestes a ver uma “reforma” não só cultural. 

 

1.2  O “deus inteligente”

E vocês, quem dizes que eu sou? (Mateus 16.15) Uma pergunta é feita aos discípulos. Eu sou o Eu sou (Êxodo 3.14) uma resposta dada por Deus ao ser humano. No período renascentista se perde algumas máximas a respeito de tônicas bíblicas. Outros aspectos teológicos são enfatizados, e uma teologia nova, que caminha para uma “não” revelação especial nas escrituras é gerada. Seria o naturalismo ganhando campo, substituindo o Deus imanente, transcendente, por um “deus inteligente”, em termos específicos. Em geral, este naturalismo se aplica à ciência, direito, religião, moral; e exclui qualquer explicação que invoque o sobrenatural.

O deísmo, e seu conjunto de credos mínimos distancia o Deus relacional, aquele que se envolve com o ser humano, por um deus que foi apenas a causa motora do universo. Reduzem o Deus bíblico, e valorizam apenas um  de seus atributos. Assim, os renascentistas estão convictos de um futuro grandioso, e respondem aos questionamentos existenciais, algo que a Igreja Romana deixou de fazer por tempo. A Lei da ciência se torna a verdade última, e não mais aquelas vistas na religião; já que nessa percepção, apenas o intelecto não é caído, divergente ao que pode ser o coração.  

 

  1. Características do Humanismo

O século XV e XVI frutificou o humanismo, este que pode ser considerado a filosofia do renascimento, em síntese. É nele que se constitui o “espírito desse tempo”. Essa “filosofia” se afastou da escolástica, e estabeleceu uma nova visão sobre o ser humano. Nesse sentido, a linguagem e a hermenêutica foram afetadas, e uma renovação foi apresentada. Aquele conceito de "Paideia" é retomado, uma virtuosidade ao humano, em detrimento a práticas dos saberes da gramática, retórica, história, poesia e filosofia moral. Aqui, também, se observa uma introdução ao que chamaremos posteriormente de Ciências “Naturais” ou “Moderna”, oriunda, também, do estabelecimento do método científico de Bacon e Descartes.

 

2.1  Humanismo que regressa a Bíblia

No humanismo presente, a volta à literatura clássica e suas respectivas traduções, trouxe obras como as Confissões de Agostinho, por exemplo, uma exposição do coração humano diante de Deus. Mais do que a filosofia e a teologia da patrística, o próprio texto bíblico foi resgatado. Posteriormente ele seria disseminado, mas antes, foi ferrenhamente criticado. Parece que isso pode ser julgado como algo “ruim”, correto? – porém, é importante lembrar que a teologia bíblica do tempo vigente era tecida junto a tradição da Igreja Romana. Grande parte dos questionamentos em relação a um novo entendimento bíblico, divergente da tradição, era inviável aqui. Wycliffe e Hus são exemplos disso.

A crítica, então, se faz como benção, já que o problema, a priori, foi entendido. A teologia da época não estava dialogando com o mundo, e os humanistas gostariam de solucionar essa questão. Logo, observamos a possibilidade de um humanismo religioso, que procura ir das "cerimônias supersticiosas" à imitação de Jesus Cristo. Podemos chamar de teologia prática, ou até mesmo pública.

 

2.2  Humanismo que “abala” as hierarquias

Os humanistas irão questionar todas as estruturas vigentes. Alguns homens mais que outros, e umas hierarquias mais que outras; porém, independente do ator e do palco, o grito por mudanças era uníssono. É questionada a “religião”, e principalmente a autoridade papal.  Estes serão chamados de reformadores, que buscaram em fundamentos bíblicos-cristãos bases para suas teses. Também é questionado o modo de governo, a sociedade e a política; estes, preparam o caminho para o século das luzes.

Em meio a busca pela grandeza, a genialidade, um tempo da valoração das riquezas, de todas elas. Era um novo mundo se fazendo conhecido, um caminho sendo preparado. Um grande anseio pelo divóricio com o medievo, propôs um diálogo até entre aqueles que não comungavam dos mesmos propósitos. Antes de tudo, era necessário uma reforma 'teológica'.    

 

  1. REFERÊNCIAS

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. 30. ed. Rio de Janeiro: ZAHAR, 2020.


por: Jefferson de Melo

(Texto apresentado em uma das trilhas da disciplina Reforma e Educação)

 

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