domingo, 31 de outubro de 2021

A REFORMA E A EDUCAÇÃO CRISTÃ (SÉC. XVI e XVII)

    1. Contexto: A Pré-Reforma

Com nome audacioso, pois “apenas renasce, aquele que um dia estava morto”, um novo período se origina na história, era o Renascimento, com recorte no séc. XV e XVI. Este período rompe, principalmente com o conceito estabelecido de quem é o “ser humano”. No Renascimento temos uma resposta totalmente diferente da tradição medieval.

Essa concepção antropológica é pauta principal nas narrativas do homem contemporâneo, consequentemente, logo, é bom começar deste ponto. Uma síntese desta nova concepção é encontrada no relativismo do sofista Protágoras, que diz: “O homem é a medida de todas as coisas”. Por meio dessa máxima, já é possível compreender que o referente divino, a priori, se esvai. A centralidade da vida é colocada na própria humanidade. A implicação posteriori é o declínio do plano salvífico e da moralidade cristã concomitantemente. Além disso, é importante ressaltar que os humanistas, que retornavam aos antigos clássicos, enfatizavam muito as “Belas Artes”, as “Ciências Naturais” e seus precursores. 

O declínio da Idade Média é a aderida de vários fatores. Alguns eventos centrais são: A Peste Negra (1348-1350), O Grande Cisma (1378-1417), A Guerra dos cem anos (1337-1453) e a Idade do Gelo (1300-1850). Olhando para a educação, existia tipos de escolas neste longo período, mas, mesmo na transição dos feudos para as cidades-estados, elas eram pouco valorizadas. Era uma crise “geral”, em todas as áreas, até mesmo a educacional. Dois problemas se acentuam nessa crise “educacional”:

(a)               A população não tinha acesso à educação, logo não obtinham um ofício.                        

(b)               O  conteúdo de algumas escolas era  "escolástico" e “sem faixa etária”.

Toda essa visão e situação vai influenciar a educação até a modernidade. O renascimento provocou uma ascensão artística e científica, em contraponto com a formação “jesuítica”, por exemplo. Porém, mesmo que as obras obtivessem temas religiosos, isso não implicava, que o artista obtinha uma “cosmovisão bíblico-cristã”.

Lembramos que o renascimento enfatiza o secularismo, racionalismo e o individualismo; e reivindica a intervenção do Estado ou da Igreja, sob o seu próprio destino. A chave para observar a mudança é vista na formação. Invés de se formar um “cristão perfeito”, agora, se atentam ao “cidadão culto e educado”.

 

    1. Enredo: A Reforma Protestante

O marco da reforma foi as 95 teses de Lutero (1517), onde ele aplica  seu método acadêmico para denunciar as indulgências, práticas vigentes da igreja católica. Porém, Agostinho e Aquino; Wycliffe e Huss o antecederam, e valem um estudo à parte; isto para entendermos melhor este período, e seus atores ainda mais..

 

2.1 Lutero e a Educação Cristã

Martinho Lutero (1483-1549) teve uma formação rigorosa. Com contato com a ordem dos agostinianos, se tornou monge aos 21 anos. A reforma de Lutero estava totalmente comprometida com a doutrina da justificação, e suas implicações . Porém, ele não focava apenas na reforma da igreja, mas também da sociedade. Lutero era conservador, em relação a outros reformadores, e por isso ele era considerado um “homem medieval”. Entretanto, isso não significa que ele era "retrógrado" e que partiu do "obscurantismo".

Os 5 solas resumem bem os pilares da Reforma: Somente as Escrituras, a Graça, a Fé, Cristo e a Deus somente a Glória. São eles que forjam a base para os princípios de Lutero sobre educação. Mesmo não escrevendo um “credo pedagógico”, contribuiu muito na área. Veja algumas dessas contribuições a seguir.

(a) Foco no estudo e leitura pessoal das escrituras. Por isso, também, traduz a Bíblia para o Alemão. Enriquecendo com outros vocábulos, à língua alemã.

(b) Alerta aos pais, para que se envolvam na educação de seus filhos. E que os enviem, meninos e meninas, à escola, o ensino básico (gratuito).

(c) Apoio a criação de escolas públicas, com professores especializados e sustentados pelo estado. Estratégias para financiamento-manutenção aos tais.

(d) Currículos com ensino de grego e hebraíco. Línguas originais da bíblia.

 

2.2 Calvino e a Educação Cristã

Calvino (1509-1564) nasceu na França, e estudou na Universidade de Paris, em termos mais escolásticos, depois Direito, em termos mais humanísticos. Sua conversão foi por volta dos 20 anos. Ele seguiu a linha do humanista cristão Melanchthon (1497-1560) que procurou dar ênfase, tanto às escrituras, quanto aos clássicos da literatura. O reformador produziu uma extensa obra durante sua vida, das mais importantes, chamada: As institutas da religião cristã, onde procura sistematizar os fundamentos da reforma.

Se ele era um educador? Com certeza. Não por um “tratado filosófico”, mas por seu magistério público, por sua preocupação com a cidade e as pessoas. Ele une o “pastor” do “pedagógo”, e em sua pregação, sermão semanal, aplica o evangelho a diversas áreas da vida. A igreja, as famílias e o estado eram os formadores de indivíduos para Calvino.

Apesar de Calvino ser um mestre “informal”, na igreja da Suíça, ele se envolve, também, na educação formal, fundando não uma “Universidade”, mas uma “Academia” em Genebra (1559). Sua visão era próxima dos pontos de Lutero, olhando para a formação elementar, mas também a superior. Ele apresenta um projeto educacional para o conselho municipal, o tema é implementação da educação gratuita às crianças, mesmo que isso custe um apelo a doações dos mais afortunados. Já a Academia de Genebra possuía um plano educativo vasto, seu programa obtinha: Teologia, Línguas, Oratória, Ética e Ciências e Matemática, e uma ênfase missionária bem forte. Era um grande centro.

Calvino era um humanista, e isso não é um problema em si, pois obtém seu ponto de partida, convicções, em pressupostos cristãos. Sua visão é holística, onde conseguia trazer ideias óbvias, mesmo não ditas, era uma epistemologia clara das pessoas. Em sua concepção a educação cristã se apropria da graça comum, está sintetiza um “dito” de Justino Mártir, que diz: “Toda verdade é verdade de Deus”, não importa quem diz, não importa se percebo. Veja algumas implicações de suas ideias a seguir.

(a)   Formar para o sacerdócio, e para a sociedade. O cristão-cidadão.

(b)   Atenas “tem tudo a ver” com Jerusalém. "Reinterpretando" Tertuliano.

 

    1. Desfecho: A Pós-Reforma

A contrarreforma foi um movimento importante, dentro da igreja católica (vale a pena observar as raízes do Ratio Studiorum), mas para concluir gostaríamos apenas de apontar para o legado da reforma, vista em Comenius, pai da didática moderna. Considerado “o Bacon da pedagogia”, “Galileu da Educação”, o “Evangelista da Didática Magna” trouxe enormes contribuições para a educação. Sintetizamos de algumas a seguir.

(a)   Ensine tudo a todos.

(b)   Ensinamento de um sólido conhecimento pela piedade.

(c)   Ensino para o aluno. Professores ensinam menos, e alunos aprendem mais.

(d)   Ensinar para além desse tempo, mas para a eternidade.

Essas ideias da reforma, podem ser vistas na formação e consolidação das famosas Universidades, como: Cambridge, Oxford, Harvard, Princeton e Yale, por exemplo. Aqui seria, uma educação não mercantil, mas com propósitos maiores, que entende que saber mais minimiza a arrogância e se afasta de uma fé supersticiosa. Mais que isso, edifica a igreja e glorifica a Cristo.


Por: Jefferson de Melo. 

(Texto apresentando em uma das trilhas da disciplina de Raízes Históricas da Educação Cristã)

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