- Contexto: A Pré-Reforma
Com nome audacioso, pois “apenas renasce, aquele que um dia estava morto”, um novo período se origina na
história, era o Renascimento, com recorte no séc. XV e XVI. Este período rompe,
principalmente com o conceito estabelecido de quem é o “ser humano”. No
Renascimento temos uma resposta totalmente diferente da tradição medieval.
Essa concepção antropológica é pauta principal
nas narrativas do homem contemporâneo,
consequentemente, logo, é bom começar deste ponto. Uma síntese desta nova
concepção é encontrada no relativismo do sofista Protágoras, que diz: “O homem
é a medida de todas as coisas”. Por meio dessa máxima, já é possível
compreender que o referente divino, a priori,
se esvai. A centralidade da vida é colocada na própria humanidade. A implicação posteriori é o
declínio do plano salvífico e da moralidade
cristã concomitantemente. Além disso, é
importante ressaltar que os humanistas, que retornavam aos antigos
clássicos, enfatizavam muito as “Belas Artes”, as
“Ciências Naturais” e seus precursores.
O declínio da Idade Média é a aderida de vários
fatores. Alguns eventos centrais são: A Peste Negra (1348-1350), O Grande Cisma (1378-1417), A Guerra dos cem
anos (1337-1453) e a Idade do Gelo (1300-1850). Olhando para a educação,
existia tipos de escolas neste longo período,
mas, mesmo na transição dos feudos para as cidades-estados, elas eram pouco valorizadas. Era uma crise “geral”, em
todas as áreas, até mesmo a educacional. Dois
problemas se acentuam nessa crise
“educacional”:
(a)
A população não tinha
acesso à educação,
logo não obtinham um ofício.
(b)
O conteúdo de algumas escolas era "escolástico" e “sem faixa etária”.
Toda essa visão e situação vai influenciar a educação até a
modernidade. O renascimento provocou uma ascensão artística e científica, em contraponto com a formação “jesuítica”, por exemplo.
Porém, mesmo que as obras obtivessem temas religiosos, isso não implicava,
que o artista
obtinha uma “cosmovisão bíblico-cristã”.
Lembramos que o renascimento enfatiza o
secularismo, racionalismo e o individualismo; e reivindica a
intervenção do Estado ou da Igreja, sob o seu próprio destino. A chave
para observar a mudança é vista na formação. Invés de
se formar um “cristão perfeito”, agora, se atentam ao “cidadão culto e
educado”.
- Enredo: A Reforma Protestante
O marco da reforma foi as 95 teses de Lutero
(1517), onde ele aplica seu método acadêmico para denunciar as indulgências, práticas vigentes da
igreja católica. Porém, Agostinho e Aquino; Wycliffe e Huss o antecederam, e valem um estudo à parte; isto para entendermos melhor este período, e seus atores ainda mais..
2.1
Lutero e a Educação Cristã
Martinho Lutero (1483-1549) teve uma formação
rigorosa. Com contato com a ordem dos agostinianos, se tornou monge aos 21
anos. A reforma de Lutero estava totalmente comprometida com a doutrina da
justificação, e suas implicações . Porém, ele não focava apenas na reforma da
igreja, mas também da sociedade. Lutero era conservador, em relação a outros
reformadores, e por isso ele era considerado um “homem medieval”. Entretanto,
isso não significa que ele era "retrógrado" e que partiu do "obscurantismo".
Os 5 solas
resumem
bem os pilares da Reforma: Somente as Escrituras, a Graça, a Fé, Cristo e a
Deus somente a Glória. São eles que forjam a base para os princípios de Lutero sobre educação. Mesmo não escrevendo um “credo
pedagógico”, contribuiu muito na área. Veja algumas dessas contribuições a seguir.
(a) Foco no estudo
e leitura pessoal das escrituras. Por isso, também, traduz a Bíblia para o Alemão. Enriquecendo com outros vocábulos,
à língua alemã.
(b) Alerta aos
pais, para que se envolvam na educação de seus filhos. E que os enviem, meninos
e meninas, à escola, o ensino básico
(gratuito).
(c) Apoio a criação de
escolas públicas, com professores especializados e sustentados pelo estado.
Estratégias para financiamento-manutenção aos tais.
(d) Currículos com ensino de
grego e hebraíco. Línguas originais da bíblia.
2.2
Calvino e a Educação Cristã
Calvino (1509-1564) nasceu na França, e estudou
na Universidade de Paris, em termos mais escolásticos, depois Direito, em termos mais humanísticos. Sua conversão foi por volta dos 20 anos. Ele seguiu a
linha do humanista cristão Melanchthon (1497-1560) que procurou dar ênfase, tanto às escrituras,
quanto aos clássicos da literatura. O reformador produziu uma extensa obra durante sua vida, das mais importantes, chamada: As institutas da religião cristã, onde procura sistematizar os
fundamentos da reforma.
Se ele era um educador? Com certeza. Não por um
“tratado filosófico”, mas por seu magistério público, por sua preocupação com a
cidade e as pessoas. Ele une o “pastor” do “pedagógo”, e em sua pregação,
sermão semanal, aplica o evangelho a diversas áreas da vida. A igreja, as
famílias e o estado eram os
formadores de indivíduos para Calvino.
Apesar de Calvino ser um mestre
“informal”, na igreja da Suíça, ele se
envolve, também, na educação formal, fundando
não uma “Universidade”, mas uma “Academia” em Genebra (1559). Sua visão era
próxima dos pontos de Lutero, olhando para a formação elementar, mas também a superior. Ele apresenta um projeto
educacional para o conselho municipal, o tema é implementação da educação
gratuita às crianças, mesmo que isso custe um
apelo a doações dos mais afortunados. Já a
Academia de Genebra possuía um plano educativo
vasto, seu programa obtinha: Teologia, Línguas, Oratória, Ética e Ciências e
Matemática, e uma ênfase missionária bem forte. Era um grande centro.
Calvino era um humanista, e isso não é um
problema em si, pois obtém seu
ponto de partida, convicções, em pressupostos cristãos. Sua visão é holística,
onde conseguia trazer ideias óbvias, mesmo não
ditas, era uma epistemologia clara das pessoas.
Em sua concepção a educação cristã se apropria
da graça comum, está sintetiza um “dito” de Justino Mártir, que diz: “Toda verdade é verdade de
Deus”, não importa quem diz, não importa se percebo. Veja algumas
implicações de suas ideias a seguir.
(a)
Formar para o
sacerdócio, e para a sociedade. O cristão-cidadão.
(b)
Atenas “tem
tudo a ver” com Jerusalém. "Reinterpretando" Tertuliano.
- Desfecho: A Pós-Reforma
A contrarreforma foi um movimento importante, dentro da igreja católica
(vale a pena observar as raízes do Ratio Studiorum), mas para concluir gostaríamos
apenas de apontar
para o legado da reforma, vista em Comenius, pai da didática moderna.
Considerado “o Bacon da pedagogia”, “Galileu da Educação”, o “Evangelista da
Didática Magna” trouxe enormes contribuições para a educação. Sintetizamos de
algumas a seguir.
(a) Ensine tudo a todos.
(b) Ensinamento de um sólido conhecimento pela
piedade.
(c) Ensino para o aluno. Professores ensinam menos, e alunos aprendem mais.
(d) Ensinar para além desse tempo, mas para a
eternidade.
Essas ideias da reforma, podem ser vistas na formação e consolidação das famosas Universidades, como: Cambridge, Oxford, Harvard, Princeton e Yale, por exemplo. Aqui seria, uma educação não mercantil, mas com propósitos maiores, que entende que saber mais minimiza a arrogância e se afasta de uma fé supersticiosa. Mais que isso, edifica a igreja e glorifica a Cristo.
Por: Jefferson de Melo.
(Texto apresentando em uma das trilhas da disciplina de Raízes Históricas da Educação Cristã)
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