sábado, 17 de julho de 2021

T06 21 – Do café com leite ao toddynho. O declínio da sala de aula

i. Entendendo o “Café com Leite” e o Toddynho"

Não faz muito tempo, nos meus dias de aluno de educação básica, havia um termo muito interessante; era ele: “Café com Leite”. Talvez você já ouviu falar, ou mesmo utilizou em algum momento, mas se não, tentarei explicar de modo simples sua aplicação e contextualização.

O termo “Café com Leite” era e é atribuído às pessoas que não dominam bem alguma habilidade. Por exemplo: No esporte, essas pessoas são as últimas a serem chamadas a participar, pois são “Café com Leite”. (Na seleção para futebol é muito utilizado). O termo pode estar ligado a idade das pessoas, já que quanto mais jovem, mais propício à inexperiência. Em resumo esse é o significado, onde o termo era tomado como uma ofensa em todos os sentidos, já que ninguém gostava de ser chamado “Café com Leite”, mesmo que a ideia fosse válida.

Penso também, que a apropriação vem do pensamento de que o café é uma bebida voltada ao público adulto, mesmo que pessoas muito jovens bebam. O leite seria para aliviar a tensão e gosto forte da cafeína, deixando mais leve e suave a bebida, porém, mesmo que misturada, ainda não deixa de ser café.

Mas, e o “Toddynho”? É outro termo também? Bom, alguns utilizam em situações diversas, mas não é tão forte quanto o anterior. Tal bebida é totalmente diferente, ela pode ser bebida gelada. O “Toddynho” é uma bebida infantil, derivado do achocolatado TODDY.

E o que tem haver os dois termos com o declínio da sala de aula? Isso é o que iremos investigar a seguir, partindo da ideia de que pessoas se inclinam para o que chamaremos de “Café com Leite” e outras para “Toddynho”. Sigam com a leitura.


ii. O espelho da sociedade

Nos últimos meses, comecei a perceber uma triste realidade, a de que o “espírito estudantil”, sumiu. O que isso significa? - Significa que por mais que o estado físico esteja desgastado, (potencializado também pela COVID 19) os estudantes perderam a alegria intrínseca que é aprender. Nesse novo contexto, as artes, ciências e os esportes a cada dia precisam se auto justificar, em sentido e significado.

Seus educadores, como caça fantasmas, não partem mais do pressuposto de que a sua área do conhecimento é fundamental, ele agora precisa argumentar e mostrar junto com a escola toda importância disciplinar. O aluno precisa reencontrar esse estado de espírito de alguma maneira, pois não há aprendizagem distante de uma abertura inicial ao ensino; isso deve ser algo sempre proposital.

Nesse dilema, onde escolas e centros educacionais (em geral) devem começar? Penso, que o melhor lugar para se dar início a um projeto de resgate “espiritual” ao estudante é na sala de aula. Sem medo de errar, afirmo: Este ambiente é o espelho da sociedade.

A sala de aula é um lugar transformador, de renovação de mentes e criatividade. Mas, para isso ocorrer é necessário preparo, autoconhecimento, gestão e claro; "espírito estudantil”. Essa ideia ultrapassa o que a grande maioria chama de motivação, já que transcende interesses momentâneos e superficiais, partindo para uma linha constante e eterna.

E onde estaria o chamado “Café com Leite” aqui? - Este aluno sumiu e se encontra desaparecido dos ambientes de promoção educacional. O que mais encontramos atualmente é o chamado “Toddynho” - Este aluno predomina a maioria das vias atuais de aprendizagem.

Mas, e daí? - Qual o valor de entender o perfil desses grupos de estudantes? Já que poderíamos dizer um daqueles grandes jargões: “Todos são importantes, e inteligentes ...”, mesmo sem conhecer nenhum aluno. Frases de efeito não mudam a realidade, porém, reconhecer humildemente que preciso ser melhor do que eu mesmo sou, é um passo primário.

Então, uma sugestão para atender ambos os públicos é promover um ambiente “reflexo” da sociedade, a sala de aula; com a construção de regras de convivência de modo colaborativo, numa visão sociocrática. Isso significa, com o consentimento de todos, e não necessariamente o desejo da maioria. É uma perspectiva diferente para vigorar o "espírito estudantil”; aplique.


iii. Categorias: fundo, intermédio e nerd

A sala de aula declinou, e a sociedade foi junta, ladeira abaixo. Culpados já foram apontados, retratações quase nunca são feitas; e nós? Ainda estamos aqui analisando o que aconteceu.

Para ajudar essa observação, analiso a minha sala de aula do ensino médio. Era muito claro neste período, pelo menos para os alunos, as categorias não explícitas de uma sala de aula. Lembremos:

  1. Fundo. Esse público, geograficamente, sentava nas últimas cadeiras da sala. Era claro os seus objetivos e interesses, que giravam em torno da não atenção de uma aula. 
  2. Intermédio. Aqui, os alunos não se importam com a localidade; e no geral faziam o “mínimo esforço” para obter uma menção digna e média. (Este era eu no EM)
  3. Nerd. Os que buscam as primeiras cadeiras, e as excelentes notas. Existia um ego entre os tais, já que tal grupo possuía mais facilidade na assimilação de conteúdo; mais que a grande maioria.

Categorizar não é crime como pensam alguns pedagogos, e seus novos métodos para a sala de aula. Apesar de respeitar as novas tendências, até utilizando como caminho para a minha prática didática, não abraço todas as novidades cegamente, como se toda sabedoria antiga estivesse ultrapassada, ou errada; isso seria tolice.

Pois bem, as categorias, não necessariamente geográfica, me ajudaram até certo ponto a entender a estrutura social de uma sala de aula; mas isso até retornar à sala de aula como estagiário. Chequei o óbvio, as mudanças na disposição física.  Se havia “Café com Leite”, já não era tão fácil encontrar, já que parecia um momento de transição. Entretanto, quando pela primeira vez assumi uma classe, a ascensão “Toddynho” já tinha tomado conta.

Uma observação importante: Nem todos os “nerds” entraram nas chamadas melhores universidades, nem todos os intermediários assumiram subempregos e estão em péssimas condições intelectuais, e por fim, nem todos do “fundão” se tornaram traficantes, ou mesmo delinquentes juvenis. Quero dizer, que existem péssimos “profetas”, que acham que conseguem determinar destinos de estudantes por meio de seu comportamento em “formação”. É ótimo saber que fui um daqueles que jogaram por terra algumas dessas mentiras, manifestas por aqueles que deveriam nos ajudar a viver um pouco melhor.

Na pior das hipóteses, não abandone o espírito estudantil meu querido leitor, as demais coisas são procedentes desse fundamento primordial. Se o perdeu, ou se dizem isso; retome, rápido!


iv. Redimir a geração Tik tok?

Um último assunto, que envolve o declínio da sala de aula, dentro dos termos “Café com Leite” e “Toddynho” é uma tentativa ainda mais elaborada do resgate ao chamado espírito estudantil. Confesso, que a diversão pode ser sempre um caminho, gosto de rir, e acredito que você também. Uma boa sintaxe alivia, relaxa e embeleza.

Mas, a diversão é meio, quando se trata de sala de aula; nunca um fim em si mesma. E por essa confusão a geração Tik tok, que possui inúmeros adultos, se afunda ainda mais na arrogância que flui da ignorância. Vivemos em tempos em que monetizar vídeos se tornou o ápice da humanidade tardia. Nessa crise, qual será o nosso projeto?

É possível redenção para “Café com Leite” e “Toddynho”? - Que perdeu o senso dos espaços formais e informais, que não possui filtro, que acessa tudo, e não conhece nada. Que se apega aos números, algoritmos; mas não ao ponto de interpretar nem um nem outro.

Sustentarei a pergunta, que por muito me atinge. Se lhe atinge, convido a pensar também.


Por: Jefferson de Melo.

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