quarta-feira, 28 de abril de 2021

T04 21 – O abismo entre o ser engraçado e o idiota!

O assunto que iremos tratar incomoda, principalmente aqueles que são atores do que chamo de cultura do “bobo alegre”. Antes, vamos entender do que consiste esta cultura. 

Remetemos o “bobo” ao seu contexto histórico. Lembre-se que ele era mantido por reis e poderosos desde a antiguidade, para os divertirem com caretas, graças e zombarias. Esse era o modo como o bobo vivia a vida, logo, este entretenimento era uma forma também de trabalho.


Então, o bobo se expressa, e traz alegria aos que estão à sua volta. Mas, a questão é, por mais que os outros estejam alegres, ele não necessariamente está. Ele mesmo sendo um bobo, não é hipócrita aos seus sentimentos, pois sabe até onde se situa uma atuação. 

Quando dizemos que há uma cultura do “bobo alegre”, estamos dizendo três coisas:


  1. Nem todos sabem a diferença entre ser bobo, e fazer papel de bobo. 

  2. O drama se fundiu à realidade, a ponto da alegria ser constantemente simulada.

  3. Tal personificação se tornou um conjunto de hábitos e crenças atualmente. 


Com isso em mente, é possível já entender o que as mídias sociais conseguem provocar ao ser humano, em detrimento ao “ganhar” likes, views e followers. Além da vasta exposição a custo zero, construímos uma imagem de bobo alegre, se esquecendo de que “perdemos” a nossa identidade a cada passo nesse mar de aceitação pautada pelo que os outros dizem.

 

A degradação do ser humano é constantemente colocada à prova, pois é possível questionar até a atuação da racionalidade quando lemos, ouvimos e assistimos alguns ‘conteúdos’ da atualidade. Sabemos que o ser humano não é só razão, (apesar deste ser um grande destaque) porém, mesmo os seus sentimentos ao discurso do vale tudo para “monetizar” um conteúdo, se torna presa fácil para um caminhar desordenado, e de autonegação.    


Existe um abismo entre o modelo descrito aqui, o “bobo alegre”, que sorri por estar sendo filmado, e não necessariamente por estar feliz; e o ser realmente engraçado; que utiliza recursos como o sarcasmo e um background cultural para se divertir e alegrar outros, sem a pretensão de obter alguma coisa em troca. Em suma, ele é engraçado, por uma dádiva, não é forçado a subir em um palco; a sua graça age naturalmente. Já observaram pessoas assim?


Alerto, não estar trazendo uma fundamentação para a doutrina da seriedade, isso não existe. Longe de nós acusar um “sorriso bobo”, ou uma brincadeira descontraída. Porém, pense no termo “palhaçada”, que caiu em desuso, pois acarreta um sentido negativo popularmente. Porém, dentro do seu contexto, a palhaçada, envolvendo palhaços de verdade, é uma arte a ser apreciada e respeitada. Não à toa, nos dias atuais, o stand up comedy é tão requisitado. Logo, declaro: O humor sadio, inteligente, é mais que necessário.


O que estamos enfatizando, é quando essa necessidade se funde com a cultura vigente, ao ponto da “palhaçada” ser da ordem da normalidade. Onde rir de uma piada ruim, se torna obrigação. Onde o bobo alegre se mostra como referência para orientação de jovens. 


Concluo. O mundo não é um circo; e precisamos urgentemente de um equilíbrio. Antes que ser bobo alegre se torne a regra; e invés de sermos engraçados, como recurso retórico; se tornemos realmente um idiota, sem discernimento, ignorante, estúpido e pior, um tolo. Atentamos às sutilezas.  


Por: Jefferson de Melo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário