sábado, 31 de outubro de 2020

T10 20 – O avivamento tridimensional.

Jefferson de Melo. (1-5 páginas)

Parte I. Introdução.  

Ao longo do tempo uma palavra, carregada de significado, foi expressa. Os espaços, mesmos modificados, não a ignoraram. Tão forte, que dependendo de como ela é interpretada, uma linguagem pode ser gerada; e logo trazer mudanças à nossa realidade.

Estamos falando de uma palavra gasta em nossos dias, já que muitas pessoas a utilizam, mesmo sem conhecer o que ela quer dizer. Já outros, trazem o seu conceito, mesmo sem saber, como descrever. Para que se possa fugir do reducionismo, ou mesmo das ampliações, para além do que se cabe a mesma, vamos recorrer à etimologia, a origem da palavra; para que tenhamos um melhor aproveitamento em relação ao sentido real do que falamos, quando dizemos o verbo avivar.

No hebraico (חיה), transliterado hyh. Segundo o dicionário de hebraico-português temos estas definições para avivar: ser reanimado, ser revivido, ser restabelecido. (Berezin, 2003, p.231). Podemos observar o desdobramento para: algo cheio de vida, alegre, animado e vigoroso.

No grego, mais de uma palavra acarreta a ideia. O Rev. Josivaldo de França Pereira traz algumas delas em um artigo, como: egeíro (εγείρω), que significa levantar; e anastasi (ανασταση) que significa ressurreição, segundo o dicionário grego-português online.

Concluímos o nosso retorno aos idiomas maternos com o latim VIVUS, que pode ser entendido com vivo, ou rápido; segundo o site origem da palavra.

Este resgate inicial, da palavra em questão, tem o propósito de introduzir o entendimento sobre o que iremos chamar de avivamento tridimensional em sequência. A escolha deste termo tridimensional, para acompanhar e explorar o avivamento, vem por vias dolorosas; já que na contemporaneidade, em geral, só temos olhado para uma dimensão, quando dizemos: Reanime! Reviva! Levante! Ressurja! Rápido!

O olhar panorâmico, não é a nossa busca atualmente; e isso faz com que avivar para nós, seja apenas uma compreensão pessoal. Porém, avivar, não possui apenas uma dimensão; pois esta é ampla, vasta, e possui representatividade clara, se a observarmos com lentes mais abertas do que as que geralmente utilizamos.

É possível enxergar não apenas a largura, ou altura do avivamento; mas também a sua profundidade. Se atribuirmos uma nomenclatura para cada um dos eixos, utilizando um gráfico para abstrair sobre a mudança sistêmica que o avivar trino causa; teríamos:

x: Eu mudo. (Interno), y: A igreja muda. (Externo) e z: A sociedade muda. (Expansivo)


 

 Parte II. Avivamento que transforma. (Eu, vós)

Avivar não é ato solitário, não está emerge apenas a alguns grupos sectários; dominado nas mãos pentecostais. A necessidade desse conceito deveria erradicar o coração de cada ser humano; pois é lá que se encontram as faculdades e os anseios que a vida germina.

Então, antes de começar a pensar diferente, devo perceber, tanger, e sentir diferente. Percebendo que a vida não é apenas respirar, já que essa seria uma definição mais próxima das ciências biológicas para plantas, animais e bactérias. Ela é apenas resumo. Porém a vida deve ser revivida; logo avivada; pois é possível estarmos mortos mesmo que andemos para todo lado. Não há como negar o metafísico; mesmo o fazendo, ele estará sempre lá.

Então mudemos, antes de tudo e todos individualmente. Famílias, igrejas e escolas são os núcleos mais fundamentais de uma sociedade; porém elas são constituídas de pessoas, indivíduos; que são as partes que forjam a sua estrutura, e não o contrário. Por isso o avivamento deve ser em primeira instância, aplicada à pessoa, antes de qualquer outra ação, já que a necessidade deve ser reconhecida em nós; apesar de crermos que ela não vem de nós.

Esta chama não vem de nós; e justamente por isso ela acaba não sendo passageira em seus pilares. Uma vez experimentados nessa graça, com o coração aberto e disponível a sermos melhores que nós mesmos; vislumbramos a esperança, no homem perfeito, em Cristo.

Não é somente o aqui e agora que importa, mas também não é só o por vir. Quando Jesus e o seu Reino se tornam tudo para nós, o avivamento não se torna margem para ativismo com pautas pessoais; apesar de começar dentro de nós. Pois, estamos sendo transformados à imagem e semelhança de um Deus santo, e isso muda praticamente tudo.

Ser avivado, é ser cheio de vida. É ser movido, vigoroso, envolvido; transformado em seu espírito, por um espírito totalmente santo. Então, pular, gritar, chorar são condizentes com um avivamento genuíno; reações. Entretanto, ele não fica limitado apenas por aí, pois se fosse findaria, ou terminaria na condição personalista. Voltando ao gráfico, isso é apenas uma dimensão. E matematicamente, o que se pode enxergar ou ser construído em uma dimensão?

Respondo. Um ponto; ou mais de um. Assim, na geometria euclidiana, podemos ter em segmento de reta, ou uma reta. E só! Se, é isso que se entende por avivamento nas mentes de muitos, talvez seja devido ao fato desta dimensão, onde eu mudo apenas, mesmo não sendo por mim mesmo como dito. Esta, entretanto, deve se encontrar com a dimensão da qual a igreja muda; pois é só por meio da igreja que o genuíno avivamento pode se alastrar; já que é um movimento de dentro para fora. De dentro do indivíduo, primeiro. Da igreja, segundo.

Estamos chamando de igreja aquela mesma estabelecida por Cristo nos evangelhos, onde Ele é o cabeça; e aqueles que estão nEle são seus membros; compondo um corpo, móvel e dinâmico, único, que por incrível que pareça, não existe apenas para se satisfazer.

Essa visão de igreja diverge de muitas estabelecidas por aí em nossos dias, as “institucionais”, porém, ela está bem próxima de textos bíblicos, já que igreja não é: Tabernáculo, Templo ou Sinagoga como imaginam alguns. Não que estes ambientes não sejam importantes, mas que Jesus deu uma conclusão específica a sua noiva, é bem nítido de observar. Sendo esta, bem maior do que estabelecimentos e sistemas humanísticos, que mãos humanas possam controlar.


Parte III. Avivamento Bíblico.

Vamos olhar para dois momentos pontuais na bíblia, no desejo de compreender ainda mais sobre essa segunda dimensão do avivamento; já que começa em nós, mas se alinha à igreja. Antes de Jesus, no Antigo Testamento, e pós Jesus no Novo Testamento, temos textos bem específicos sobre o avivamento, e o seu significado.

Já dissemos que esse anseio começa de modo pessoal, mas não vem de nós mesmos. Por isso, ele é orquestrado para uma missão bem maior que nós alto satisfazer. Se pensarmos que quando Elias pede para Deus mandar fogo do céu, e Deus responde, consumindo o altar, é uma ação apenas de exibicionismo, com objetivo de exaltar o nome do profeta como grande homem, onde suas orações são respondidas, estamos com um grande problema. Existe uma lição maior a ser aprendida ali, a de que para pedir fogo, é preciso estar em chamas, e que para as brasas se manterem acessas, o coração deve estar inclinado à salvação, transformação e reforma de todos. Elias entendia bem isso. Onde ele atuava, segundo a vontade de Deus, é possível ver forma, já que temos mais que uma dimensão ali.

Citamos dois versos importantes a serem trabalhados ainda.     

E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. (Joel 2:28)

E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. (Atos 2:42,43)

Um ato esquecido nos “avivamentos pós-modernos” designado por grupos evangélicos, é a ênfase no poder de Deus e ação do Espírito Santo; com a ignorância sobre o arrependimento. Aqui não estamos falando de um capricho, mas da condição necessária para um avivamento gerido por Jesus Cristo. Será que a falta de salvação, transformação e reforma se deve a nossa falta de arrependimento? A chamada que precede o derramar do espírito começa com a conversão de todo povo santo, de anciãos a crianças. Quem a faz é o próprio Deus; para que a misericórdia seja alcançada pelos seus. E só posteriormente vem a promessa do derramamento.

O vento impetuoso trás arrepios em alguns, só em ler. As línguas repartidas como de fogo se tornam os fins, e não meios. Receber o poder do alto para ser testemunha de Jesus em todos os lugares é esquecido; e os plurais “avivamentos pós-modernos” são sob areia baseados. Pedro discursou e três mil foram salvos, e mais, reafirmaram isso em seu batismo, foram transformados. Como? Pelo arrependimento. Do que? De seus pecados. Todos eles. Começa assim a reforma, e se desdobra na comunhão e no repartir do pão. São as maravilhas de saber que antes de aceitar o noivo, ele nos aceitou, nos amou primeiro. 

O avivamento para a igreja é mais que uma experiência de final de culto, já que antes de tudo ele é bíblico. E isso é fundamental para que fujamos de ditos; dos que o negam, ou dos que abusam de sua genuinidade. Mas o cuidado com as ilusões não deve nos travar, porém nos fazer buscar, alegremente. Entendendo que é necessário sim; a interseção nos mostra isso.

É por isso que devemos orar com entendimento; não fazendo apenas listas de desejos, como se Deus fosse um “Papai Noel”. Devemos conhecer o seu coração, e orar a sua vontade em nós, em sua igreja; e não tendo dúvidas que o avivamento é pauta em lágrimas desse clamor. Alguns ao longo da história, dentro da soberania de Deus, entenderam essa necessidade.  


Parte IV. Avivamento na história.

Poderíamos citar diversos homens de Deus neste último movimento, como Leonard Ravenhill, George Whitefield, Jonathan Edwards, Charles Finney, Billy Graham, etc.

Entretanto, de forma intencional iremos compartilhar apenas sobre outros quatro; Martinho Lutero, John Wesley, Evan Roberts e William Seymour; com o objetivo de retratar a última dimensão do avivamento. Lembramos, que a primeira dimensão se faz na pessoalidade, e a segunda na igreja; em termos bíblicos, nos membros a priori, e no corpo, posteriori.  

Selecionar alguns exemplos para compreender essa dimensão expansiva, onde a sociedade muda, não é tarefa fácil, já que o fator queda ainda é existente. Estamos tratando agora das esferas da sociedade, elas que são impactadas. Então, figuras planas, de duas dimensões como polígonos, através do terceiro eixo se torna algo realista, já que há nela profundidade. Afirmo que esta dimensão não se trata dos salvos em Jesus, que se aconchegam na certeza da salvação mediante a graça de Deus. Isto é apropriação da graça barata, segundo Dietrich Bonhoeffer; porém, estamos trabalhando no vislumbre; este, que diz respeito à manifestação do que a maravilhosa graça provoca em nós. Não creio que ela seja um amuleto da sorte!

Logo, podemos observar as verdades bíblicas sendo enfatizadas explicitamente em alguns momentos da história. Comêssemos com a Reforma Protestante, motivada por Pedro Valdo, John Wycliffe e Jan Huss; mas culminada em seus propósitos por Martinho Lutero. Quando a igreja que se diz mãe se corrompe, não há como se achegar em Deus, nosso pai. A noiva, em momentos emergentes como este, necessita de um avivamento, de dentro para fora. Então, 505 anos depois, se podemos enfatizar: somente a fé, somente a graça, somente Cristo, somente a escritura; e a Deus, somente a glória é devido a purificação que o santo espírito causa em nós. Na reforma, as contribuições não foram apenas “religiosas”, mas em diversas áreas. Cito a própria educação, que começou a ser enxergada de maneira bem diferente em relação ao que se tinha no período medieval. A influência impactou o próprio modo de pensar sociedade; governo e economia. O avivamento transborda, e impacta até indiretamente, pela graça.

Precedente a John Wesley, o movimento puritano e pietista foi terreno fértil para o que viria a seguir; antes do evangelismo de massa, produção de hinos, missões transculturais e reforma social; o cristianismo experimental e prático já era vivido na Inglaterra, pequenos grupo de comunhão, estudo bíblico e oração já queimavam nos séculos XVI e XVII; fruto de uma preocupação com a glória de Deus, ênfase à conversão, à vida espiritual e à santificação, e visão integrada da vida (família, igreja e sociedade), sob a autoridade suprema de Deus. A Inglaterra foi incendiada, no sentido bom da palavra. Frases como: O mundo é minha paróquia de John Wesley não se tornou clichê por aí a fora, ela na verdade gerou efeito. Alguns historiadores acreditam que o avivamento evangélico livrou a Inglaterra de uma revolução sangrenta como a que abalou a França (1789).

Anos mais tarde, no final do século XIX, em um país chamado Gales, um jovem chamado Evan Roberts clamava a Deus para o enchê-lo com sua presença. Em segundo lugar ele pedia por um avivamento nacional. “Aviva Gales!”, ele suplicava. (DeMoss & SMITH, 2016, p.12, grifo nosso). Em poucas palavras, o fogo caiu. O impacto foi gigantesco, já que mais tarde em Los Angeles, outro avivamento estenderia o que começou em Gales.

Mas antes, ainda em Gales, nos seis primeiros meses de avivamento, aproximadamente 100 mil pessoas foram convertidas. O número é assustador, pois pessoas mesmo sendo membros de igrejas, tiveram uma experiência com Deus. E os efeitos colaterais na social? Há claro! O clima mudou, e os ambientes de trabalho se tornaram espaços de entusiasmo. Temas como arrependimento e conversão se faziam presentes fora do espaço litúrgico das congregações.

Os bares fecharam, já que os homens não bebiam bebida alcoólica mais. Eles voltavam para seus lares, família, depois de seu período de trabalho. Os índices de criminalidade despencaram. As dívidas começaram a ser pagas; víamos então os frutos da honestidade, perdão e conciliação.

Já em Azusa, apesar de destacarmos William Seymour, a característica era o anonimato em relação à condução do trabalho. Orações intercessoras, em unidade, dia e noite; era o pilar, junto ao intercâmbio direto com o que acontecia em Gales. Não diferente, o fogo caiu. Alguns a chamaram de Jerusalém devido às suas reuniões com pessoas de diversas localidades, que tinham o desejo de receber do alto essa graça sobrenatural, para que assim pudesse regredir ou avançar naquilo que Deus tinha para ela, segundo a sua permissão. Uma das lições neste avivamento é a de que Deus usa seus pequeninos, apesar da ênfase ser sempre na manifestação das línguas chamadas estranhas. Ela é parte, mas não é todo o avivar. Nisto o litúrgico era modificado, com rostos diante do chão, invés de púlpitos e altares em pé. A transformação interna era tão necessária que até o conhecimento intelectualizado foi colocado em cheque, na visão de muitos dos irmãos; era fato necessário, que ressoava.

A terceira dimensão do avivamento aqui explorada é produto de serviço às pessoas. Ela não tem nada de autopromoção persona, ou procura por benefícios diante de Deus. É entrega, e não barganha. No mais, tenhamos cuidado em atribuir negatividade às árvores que produzem frutos tridimensionais, já que é possível que as nossas sementes unidimensionais estejam nem no solo ainda. A nitidez física é para o que não crê primeiramente; pois todos os que não dispõem de fé necessitam mais do que qualquer um de um milagre. Se a graça nos basta; o sobrenatural se faz necessário para aqueles periféricos ao senhorio de Cristo provar e ver, agora mesmo, hoje; o como viveremos em breve, no por vir.

Mas o que ficou desses dias para nossos dias? Já que a tocha ainda acessa! Agora, quem irá carregá-la? Gregório Mcnutt foi um homem contemporâneo a nós, e que viveu em intensidade no que chamamos de tridimensional aqui. Lembro de seu velório, o mais pentecostal que presenciei. As pessoas choravam ali não de tristeza, mas pelo fato de entender que a tocha está ainda acesa, e que de algum modo ela estava sendo passada para uma nova geração; alguns já estão ousando a carregar. Ousaremos também? Nas três dimensões?


Referências. 

(i)                 BEREZIN, Rifka. Dicionário Hebraico-Português. Ed. São Paulo: Edusp. 2003.

(ii)              http://www.monergismo.com/textos/avivamento/avivamento_padrao.htm

(iii)            https://www.webtran.pt/greek/para-portugues/

(iv)             https://origemdapalavra.com.br/palavras/avivar/

(v)               https://www.bibliaonline.com.br/acf/jl/2

(vi)             https://www.bibliaonline.com.br/acf/atos/2

(vii)          BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Ed. Mundo Cristão. 2016.

(viii)        https://cpaj.mackenzie.br/historia-da-igreja/movimento-reformado-calvinismo/jonathan-edwards/licoes-dos-avivamentos-americanos/

(ix)             DeMoss & SMITH. O Avivamento do país Gales. Impacto. 2016.  

(x)               BARTLEMAN, Frank. A história do avivamento Azusa. Impacto. 2016. 

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