quarta-feira, 11 de setembro de 2019

T04 2019: Os efeitos da Ignorância Religiosa.


Que saudades, saudade de um tempo que nem vi, 

mas que só em ouvir já renasce o desejo pelo novo. 

Nada menos que um retorno.

 Os ninjas do renascimento cultural: Da Vinci, Mich, Donatello e Rafael foram notáveis em tudo que resolveram trabalhar (estudar e criar), as suas obras se tornaram patrimônio histórico para toda a humanidade. Quem nunca sonhou em ir ao museu do Louvre ver pessoalmente as obras Monalisa e Vênus de Milo? Ou visitar a capela sistina, apreciar o afresco e o juízo final, espetáculo.

 Parece que o mundo do teocentrismo[1] no quesito arte andou nos seus melhores dias; mesmo no contexto abusivo, de uma política ‘quase’ absolutista[2], com ressalvas de “vozes proféticas". A Pietá e o Davi[3] revelam como o homem é capaz do inacreditável e da versatilidade, de ser um artista completo, ou mesmo de se debruçar em vários temas, de seu período como o de outros.

Atente-se a Newton e Leibniz, ao chamá-los apenas de físicos e matemáticos resumimos toda sua contribuição científica. Um pouco antes observe Agostinho e Aquino, pais da igreja, teólogos que exploraram na filosofia um Deus transcendente, mas razoável. Sobrenatural, mas de modo também natural.

Ah Saudades!

Há possibilidade?

De quando o ser humano não se prendia em aprender apenas aquilo que o mandam e obrigam aprender, ele a pouco era curioso, como um bebê destemido, sem medo dos perigos. Podendo não reconhecer que isto é algo que vem do divino, mas mesmo correndo risco, seguia, era o seu destino. Mas nos limitaram? Ou nós nos limitamos? O mundo positivista[4] e das respostas curtas e rasas se expandiu e nos inundou; fez com que textos com mais de três linhas nos assustassem, tornando nos a terceirizar e entregar cada movimento a um especialista, mesmo conscientes de que Deus é criador e conhecedor das ciências; de todas elas.

A minha ignorância começa quando me subestimo, e submeto o meu ouvido a alguém, e lhe dou a decisão do meu caminho; aí no processo, respondo na jornada todas as questões que nunca foram minhas, andando sem saber, até então pelo que morrer, logo não entendendo como viver;

Me torno um técnico em algum assunto, existindo nisto, onde saber dois temas simultaneamente é um crime mortal, ou traição a minha profissão ou paixão. Absurdo! Que cultura em silêncio grita isso? Em que mundo ser inteligente é sinônimo de vergonha? Quem é talentoso em várias disciplinas e tem poderio criativo deve se limitar ou ridicularizar? (Isso tem cara de Gramsci)

Hã Saudades?

Ah Realidade!

Pois bem, o mundo pós-moderno pode ter a ilusão de estar liberto das amarras ideológicas, mas ideias ainda iluministas[5] permeada de humanitas[6] nos envolvem, apenas possibilitando mais sugestões de como devemos nos posicionar, porém não respondendo a tal questão. A ignorância maciça continuou e continua; já a pregação de que um grupo de heróis irá resolver tudo ainda por aqui segue; acreditamos mais nos Vingadores[7] do que em Adão e Cristo. 

Já nos dias de hoje tudo é possível. Relativismo[8] puro e simples, niilismo[9] e liquidez[10]  pois, nada dura, e claro; Valar Morghulis[11], tais as tônicas do século. A ignorância é um estado que não depende das condições financeiras, pois pobres podem ser inteligentes. Dinheiro não é sinônimo de intelectualidade, é óbvio. Você deve parar de não querer ser sábio e se levar por qualquer onda coaching atual.

Os professores e mestres sempre devem ajudar, mas você consegue se virar sem eles também? Esta seria a autonomia[12] que Piaget tanto falava? Só sei que estudar matemática não nos finda em ler literatura de John Bunyan, entende?

A educação formal é importantíssima, idem a informal; e acredite se quiser, todas passam por uma epistemologia[13] onde o sujeito constrói o seu conhecimento; e que digam os gregos que estudavam assuntos que não tinham nenhuma relação com o seu dia a dia, e essa era a virtuosidade, desde Aristóteles. Antes do penso, logo existo (Descartes) vem, uma vida não refletida não merece ser vivida. (Sócrates)

Entendo, perdendo a ignorância você pode perder a sua suposta “felicidade” por ver as coisas como são e entender sobre revelação. É uma escolha, e tudo bem escolher o superficial. Mas bom é assumir que foi uma escolha, sem desculpas socioculturais. Por favor. Entretanto, se aceitar se elevar o primeiro passo é se prostrar, e reconhecer humildemente que és limitado, e que há um conjunto de respostas que não se aplica a tudo. Levante e fale por dez minutos, mas antes sente-se e ouça sabiamente pessoas e livros por décadas.

Já sabendo que a ignorância permeia em silêncio, mas não calada em todas as esferas da sociedade, temos a religião, que não fica de fora disto. Dentre as existentes, várias, como você sabe, mas quero focar na da Bíblia agora.

E que religião é essa? Me disseram que religião não é bom, e que Deus não é religioso e um monte de coisas mais do gênero; porém...

Para você que considera a Bíblia leia a carta de Tiago urgente, (cv. 1.27). Daí terá respaldo bíblico para não afirmar essas frases de efeito. A religião bíblica é pautada na vida, e não numa instituição; você pode pertencer a uma, mas ela não norteia você, Jesus é quem faz isso. Ou deveria. No passado não tinha locais sacros e nem livro sagrado, e então imagine como era a religião? Simples, ela era no caminhar, ensinado às crianças como deve se viver, através do Deus próprio comunicando estes absolutos.

Se as palavras ainda possuem significado, quero segmentar cristianismo e cristandade. Nenhuma destas está na Bíblia, logo você que não considera o livro sagrado pode ficar tranquilo, ou se preocupar bastante já que elas se estabelecem fora do pensamento judaico-cristão. Observe as questões abaixo:

Se o cristianismo não é bíblico, o que ele é?

A vertente do farisaísmo se propagou ao longo do pensamento. A interpretação da lei até hoje é polêmica e confusa; mesmo para aqueles que já a ouvem sistematicamente. Quando Jesus a explica, apontando para o Antigo Testamento (Bíblia Hebraica), logo não se coloca mais fé; quanto a liberdade dentro da literatura Paulínia é parecida, muitos não a entendem direito, pois a soberania de Deus e a responsabilidade humana são colocadas como oposição, e não paradoxo, então nós resolvemos criar os nossos caminhos, os individuais. O imperador Constantino fez isso, através da unificação, assim adveio uma baita tradição, milenar. A difusão foi sacramentada, já a pax romana[14]  ...

A questão é a fuga do que é ser cristão. Na Bíblia leia (Atos 11.26) e o intérprete, já nesta estrutura acima, é apenas aquele que aceita as condições estatais.

Eis o cristianismo de muita gente; e é uma pena dizer, inexistente.

Se ser da cristandade não me garante nada, por que vivo em meio a ela?

Este grupo ‘cristão’ aparente, que vive debaixo de um guarda-chuva que não é o de Jesus, tal que discursa e não pratica, (Mateus 7.24-29) fomentou a reforma protestante[15] , porém, dentro da própria a luta continua, interna e externamente. Qual? A de mesmo em meio a um grupo difícil, que abusa do seu semelhante, é necessário sal e luz. Em outras palavras, de você lá.

Se abster dos núcleos é uma resposta fraca. Sua permanência, e mente renovada de verdade deve ser o status quo, a régua que nivela. Seja o exemplo dos fiéis, pois muitos no discurso de defesa de uma vida melhor para todos levantaram bandeiras, defenderam legados e militaram; outros como Espinosa explicaram o deus que acreditavam e se ‘esvaziaram’; algo bem improvável;

E a pergunta conclusiva que fica, religião não é para religar a Deus, levando o ser humano a um relacionamento pessoal/ social através da sua palavra e voz?

- Mundo “racionalista[16]” e “santificado[17]” quando deixarão os seus deuses e morrerão? Para que a vida venha a vocês, para que a misericórdia e a graça te abracem, confronte e conforte. Quando sentaremos na mesma e confessaremos os nossos pecados, uns para os outros, sem indiferença, para aí, podermos na vulnerabilidade sermos sarados; se reconhecendo como iguais, filhos do mesmo Pai; aguardando a sua linguagem em nós. Até quando? Ajude-nos!

 

 


[1] Teocentrismo é a forma de pensamento que considera Deus como centro de tudo. (Aurélio)

[2] Absolutismo é o sistema de governo em que o poder do chefe é absoluto. (Aurélio)

[3] São obras notáveis de Michelangelo, artista italiano que além de pintor, também esculpia com maestria;

[4] Positivismo por Auguste Comte é um sistema filosófico que, banindo a metafísica e o sobrenatural, se funda na consideração do que é material e evidente.  Tendência em encarar a vida unicamente pelo lado prático. (Aurélio)

[5] Iluminismo é a doutrina de certos movimentos religiosos marginais, baseada na crença de uma iluminação interior ou em relações inspiradas diretamente por Deus. Movimento de renovação cientifica na Itália, no século XVIII. (Aurélio)

[6] Humanitas é um ideal de cidadão romano, atrelado a educação e próximo da Paidéia, mas vem de Cícero.

[7] Os Vingadores são, na realidade, uma resposta da Marvel à famosa “Liga da Justiça” criada pela DC Comics e tem como “heróis fundadores” ThorHomem de FerroVespaHomem-Formiga e Hulk. O Capitão América foi o primeiro membro a ser recrutado. A ideia inicial é que esse grupo tenha sido o primeiro a ser chamado pelo governo dos Estados Unidos para defender o mundo em desafios cósmicos. (Coxinha Nerd)

[8] Relativismo é uma teoria filosófica baseada na relatividade do conhecimento: filosofia kantiana é relativismo. Doutrina segundo a qual tal ou tal fato depende das condições de meio e de tempo, com quais varia. (Aurélio)

[9] Niilismo é o ponto de vista que afirma ser as crenças, as verdades e os valores tradicionais sem fundamento, sentido e utilidade. (Aurélio)

[10] Liquidez em Bauman é o frágil, sem entrelaço com algo profundo e arraigado.

[11] Valar Morghulis é uma expressão do alto Valeriano (língua fictícia da série da HBO Game of Throres).  Significa: Todos os homens devem morrer. 

[12] Em síntese, para Piaget a autonomia é legitimar as regras. A última fase do desenvolvimento moral.

[13] Epistemologia é uma subárea da filosofia que se dedica ao estudo do conhecimento humano, buscando defini-lo, determinando suas fontes (percepção, memória, razão, introspecção etc.) e implicações. (Aurélio)

[14] Pax, do latim, paz. Período do século I ao II que através de uma política evitava guerras internas, tais tinham receio da luta com os bárbaros também.

[15] Protestantismo é a reunião das doutrinas religiosas ou das igrejas que, durante a Reforma religiosa no século XVI, se separaram da igreja Católica romana. (Aurélio)

[16] Racionalismo é a reunião das teorias filosóficas de acordo com as quais o conhecimento se baseia no que é fornecido pela razão, não considerando os sentidos e a experiência. (Aurélio)

[17]Aquele que conseguiu se tornar santo; característica ou atributo de quem se tornou santo; diz-se dos santos. (Aurélio)



Por: Jefferson de Melo 

Nenhum comentário:

Postar um comentário